Uma bebê com microcefalia é vista em um hospital, em
Salvador, no dia 27 de janeiro de 2016 - AFP
Segundo um dos estudos, publicado na
revista científica The Lancet, algumas crianças com más-formações cerebrais
podem não ser diagnosticadas, porque têm cabeças de tamanho normal, e não os
crânios pequenos observados em crianças com microcefalia relacionada à infecção
por zika.
Mais de 100 bebês que foram
“definitivamente ou provavelmente” infectados por zika ainda no útero tinham
cabeças de tamanhos normais, segundo estudo recente, afirmaram os cientistas.
O crânio se desenvolve completamente por
volta da 30ª semana de gravidez.
Isso significa que “recém-nascidos
infectados pelo vírus no final da gravidez podem passar despercebidos, porque o
tamanho da cabeça está dentro do normal”, afirmou o coautor do estudo, Cesar
Victora, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Muitas mães de crianças afetadas também
não apresentaram a coceira muitas vezes indicativa de infecção por zika.
Benigno para a maioria das pessoas, o
vírus transmitido pelo mosquito tem sido relacionado a casos de microcefalia –
diminuição do cérebro e do crânio – em bebês e a raros problemas neurológicos
em adultos, como a síndrome de Guillain-Barré, que pode levar à paralisia e à
morte.
Na epidemia de zika iniciada no ano passado,
cerca de 1,5 milhão de pessoas foram infectadas e mais de 1.600 bebês nasceram
com cabeças e cérebros anormalmente pequenos.
Baseados em medições cranianas e
registros de erupções, os diagnósticos atuais não têm sido suficientes para
detectar todas as crianças afetadas, explicou a equipe de cientistas.
Como resultado, muitas crianças podem
ser portadoras de más-formações cerebrais que se tornarão aparentes apenas
muito tempo depois.
Victora explicou à AFP que os médicos
também deveriam buscar por outros indícios de más-formações cerebrais,
utilizando exames de ultrassom cerebral, por exemplo.
Além disso, “nós precisamos melhorar a
detecção de infecção por zika vírus no sangue”.
Segunda onda
Os autores especularam que os bebês
podem desenvolver más-formações cerebrais a partir de uma infecção posterior ao
nascimento.
“O zika afeta o cérebro em
desenvolvimento, e o desenvolvimento cerebral não para no nascimento, mas
continua por toda a infância”, disse Victora.
“Se um feto infectado no último
trimestre de gravidez pode sofrer má-formação cerebral, um recém-nascido
infectado por um mosquito não poderia ser afetado também?”, questionou.
Nenhum caso como esse foi reportado,
“mas eu penso ser possível que isso aconteça”, afirmou o cientista.
Com uma nova série de infecções pelo
vírus da zika no Sudeste brasileiro no começo deste ano, uma segunda onda de
nascimentos com microcefalia pode ocorrer em breve, alertaram os autores do
estudo.
Uma segunda pesquisa deu peso às
evidências de vínculo entre o vírus e as más-formações, ao revelar a descoberta
de zika no tecido cerebral de três bebês falecidos com má-formação grave e na
placenta de dois fetos que sofreram aborto espontâneo.
O Centro de Controle e Prevenção de
Doenças dos Estados Unidos (CDCs) concluiu que o zika causa microcefalia,
embora apenas alguns estudos tenham confirmado a presença do vírus em fetos, ou
bebês, com má-formação cerebral.
Segundo os autores, mais estudos são
necessários para determinar como o vírus funciona e o que ele causa.
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